" Em verdade vos digo :
Seja a Alma grande ou pequena,
escute meu amigo!
Nem tudo vale a pena!"

(zé)

Pergunta retórica.


Vagueia Borboleta translúcida
Pelos tedos de natal enfeitiçados
Vaga, mais solitária que a vida
Voando por telhados e telhados

Quem não quer, numa dor que desatina,
(Menos dor de coração arruinado)
Ter a musa que o engenho ilumina?
Ter de volta a poesia do seu lado?

Tenho na broboleta, lógica indefinida,
Perguntas que nunca cessarão.
Tenho beijos da poetisa e suicida!
Tenho tardes corajosas de verão!

Só não tenho a resposta mais querida,
Que a vontade me corroe toda a razão:
No coração, quanto dura uma ferida?
Quanto se pode aguentar a corrosão?

E mesmo as dores de chaga tão pequenina,
Nunca sararão?

(Zé Gabriel F.)

Beltane.¹


Amor meu, a noite se joga, suicida, do alto azul
Sejamos como ela, renitentes em nossas promessas
mesmo que a falsidade dos vinhos corram em nossas veias
Nos lançaremos sem saber que a noite será força extasiante.

Deitarei o sol em teu regaço, ateando o fogo áureo em tuas pernas
Transformando teus seios em raios cálidos de meio-dia
E, ofegantes, derramaremos a lentidão de nossa cama de pedra
E, ofegantes, seremos noite, ungida de misticismo e branda

Lembrarei de quando te fiz Deusa no meu inverno
e quando nua, andava pelas imensidades, fazendo verão
aquecendo meu universo com tua luz tremeluzente
E tua paixão poênte e dourada.

Será tua silhueta noturna minguante e branca a medida da eternidade
dançarei tal qual o sol, no céu profundo de tua boca perfumada
E beberei a luz dos teus seios, e seremos eclipse, e serei estações bailando ao teu redor
mas no fim, anoiteceremos.


¹Beltane é um festival de civilizações pagãs na região das Ilhas Britânicas reconhecido nas comemorações da Festa da Primavera.
O beltane é o mais alegre dos Sabbaths, onde as mulheres pagãs usam coroas de flores e todos dançam ao redor da fogeira.o Beltane é um festival da fertilidade, simbolizando a união entre as energias masculina e feminina, onde os pagãos comemoram o casamento dos Deuses. Durante o festival, eram acesas fogueiras nos topos dos montes e lugares considerados sagrados, sendo um ritual importante nas terras
Celtas.
E como tradição, as pessoas queimavam oferendas como, por exemplo, totens ou animais para que o poder do fogo fosse passado ao rebanho e, pulavam as fogueiras para que se enchessem das mesmas energias poderosas.
Representa o início do
Verão e marca a morte do Inverno, sendo comemorado com danças e banquetes.

Paradoxo

-Há veneno no jardim?
Será verdade?
Qual é o porquê desta necessidade?

-Há veneno no jardim.
Que crueldade!
Porém as flores não morrerão de vaidade.

-Há veneno no jardim...
Que solução!
Cercarei de veneno o meu peito
E será um escudo bem perfeito
Para as flores do meu coração!

-Há veneno no meu peito...
Que triste fim!
Enganei-me tentando me cercar...
Afastei quem queria me amar...
Que Ficasse este veneno no Jardim!



(Poesia campeã no concurso de poesias do Instituto Olavo Bilac-2005)

Cordel prá morar na lua


Ô madrinha que dança de noite
com seu sonho-de-valsa-estrelado
com seu lume de prata gelada
se tivesse o lume dourado
do padrinho da minha alvorada
mas só dança é na madrugada
e no escuro tristonho vai indo
sem querer vai subindo, subindo
e o homem que é bom vai dormindo

Ô madrinha que não tem platéia
vai no escuro valsando tristinha
Ai coitada da minha madrinha!
que só tem uns poetas lhe vendo
E mendigos de frio tremendo

se eu for o bastante dindinha
lhe escrevo sonetos brilhantes
lhe dedicos mil versos-amantes
Faço escada té aí ô madrinha
onde Jorge fez sua moradia

Tomo um porre com Jorge Gerreiro
Monto ingreja, mesquita, terreiro
faço em ti o que é bom e humano
mas eu volto no início do ano
pois o carnaval é em fevereiro!

(João do Mar)

[A]gosto Amargo


Quando o vento dá um nó
quando a rua junta pó
e a chuva traz a lama
Quando a fruta temporana
apodrece no cipó

Quando a vida é mais viril
Quando há fogo no pavio
Quando nasce toda Ana
Quando ganha o homem vil
E o leão tomba na savana

Quando a noite é mais escura
Quando nasce a amargura
quando encolhe a imensidão
quando o ar é de secura
Quando seca o ribeirão

Quando o gosto é tão amargo
quanto o café que eu trago
Quando vejo, nem me lembro
Quero é que que o vento largo
me carregue prá setembro.

(Zé Gabriel F.)

A estranha da fotografia


Hoje sinto a ausencia do apego
não me lastima a ausência
ela é em mim tão presente, essência minha, tesouro meu.
e até mesmo o rosto que sorri nos retratos
me é estranho
é tão estranho...
se sorrias antes, me lançava por vontade ao abismo do ' te amar incondicionalmente'
hoje, quando sorri
não a reconheço

É alheio para mim
teu sorriso, teu gesto de despreso, tuas quimeras mesquinhas
Não a reconheço, não consigo lembrar de ti.
Alguma coisa em mim me grita:
- é ela! aquela de antes!
Mas meus olhos não te distacam mais da multidão
se antes decorava teus gestos e sorrisos
hoje me são estranhos
és alheia, és estranha, simplória, detalhe.

Mas se antes dedicava-me a te reconhecer em tudo e em todas
hoje não sei quem és
e hoje, não faço mais questão.

Da Série 'Na Ilha' ( Ao Amor Que Insistimos)


"(...)Desenlacemos as mãos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes."

(Ricardo Reis)



Ao amor que insistimos
e que de nada valeu
a teimosia:
Deixai, Clarisse, que as coisas
se ajeitem por elas mesmas
não vale o maior desassossego
ao amor que tem por início
um fim
Deixai, clarisse, que o mar
bata nas pedras, sem mesmo
se dar conta das pedras.

Ele flui,e se desfralda,e se enrrola
sem mesmo dar-se conta de si
E se o mar, que é tão infinito e poderoso
quantos os deuses
nem se sabe
por que devemos nos saber?
- não vale a pena, Clarisse.

Deixai que sejam nossos
os desassossegos
não compartilhemos com os outros
que sejam sacros
por só nossos
como um segredo dito em músicas
de resistência

seja sacro o segredo, por só nosso
cristalizado, firme, rígido
mesmo que sejamos de alma pequenina
deixai o amor que insistimos teimosamente
não vale cançarmo-nos.

Série: 'Na Ilha'


A Ilha.

O que fez ao Senhor, o sol ?
aquele sol, daquelas tão distantes vagas
que enrroladas, trovejavam na beira-mar
e nos calávamos ?

O que fez ao Senhor, a lua ?
Aquela lua, que cheia e tímida nós olhávamos
e naquelas noites embreagadas, a amamos
tão mansamente ?

Onde está o caminho, a ladeira?
onde estão as águas de esmeralda?
onde está o sono das tardes serenas?

se deixamos algo, foram pegadas em par
se levamos algo, foram lembranças doces
se amamos algo [se amamos de fato] ,esvaiu-se.

A amante.


Auto lá!
Você que vai embora!
Não vê que me apavora
Essa pressa que tu tem?

Fica mais!
Que a vida é sem demora
Fica só mais uma hora
Tua presença me faz bem!

Veja bem:
Por que mais essa agora?
Teu cajado tu decora,
Com fitilhos do Bonfim!

Não vai não!
Tua pressa me apavora!
Não quero que vá embora
Porque corre tanto assim?

Olha lá!
O teu terno no varal!
Os cachorros no quintal
Já não param de latir!

Nosso amor...
Era incondicional
Não desejo o teu mal
Só não deixo tu partir!

Essa outra
É uma moça inconstante
Tem mais de um milhão de amantes!
É mulher desatinada!

Ela abusa
Dos tristes retirantes!
Dos poetas delirantes!
Seja amaldiçoada!

Não vai não!
Deixa sua mala de lado!
Não obedece ao chamado
Dessa que se chama: A estrada!

Filosofia Romantica



Cada hora perdida na profusão incômoda e efêmera da beleza dos modelos pré-estabelecidos
É um segundo de beleza real não apreciada.
A arte, faz um tempo, nos ensinou que devemos ver a beleza em suas escalas
transitórias, e não em moldes fixos.
Mesmo assim, belo não é o que é belo em si, e sim o que é belo para quem vê.
Uma flor perdida em campos extensos, mesmo os campos extensos, só são belosquando alguém os vê.
SE não houver alguém que perca seus olhos nas imensidades, ou nas infinitas tonalidades
que podem ocorrer numa flor, a flor e os campos não serão belos...
Nem mesmo existirão
Quando te vi, te achei bela
Logo, tornou-se bela para mim, e para aqueles que eu fazia ver de acordo com a minha visão
Teus traços curvos, teus olhos, pele brancaos defeitos, as pequenas imperfeições
compõem o caos da tua beleza
Que aos meus olhos ( apaixonado que sou) transfiguram-se em uma ordem harmônica
e profundamente irresistível, tal como o mar revolto, a ressaca
embrulhando as vagas nos beirais, agredindo as pedras, uma bagunça sem fim
mas mesmo assim visto pelos olhos ,não dos navegantes precavidos, mas sim dos românticos
e enamorados,esta bagunça transforma-se num tango natural, na mais perfeita e reta conjugação do infinito.

Perdi-me em vales densos
Perdi-me por deixar-me perder
vaguei com lábios tensos
teus vales do prazer
Flores negras, perfumadas
mundo branco, montes altos
um urro seco, na garganta
como de feras enjauladas
perdido, passeio com os lábios
comtemplo teus tons juvenis
tuas coxas & garganta são sábios
entoam mantras, tão febris
unidos em unissono, eu vejo
sem prazer nenhum sentir
meu prazer é o desejo
de depois, te ver sorrir.

Pro Zé

Não.
Não olhei tuas calças!
Não chorei tuas rosas.
Nem percebi tuas manhas.

Não.
Não me deitei em teus braços!
Não te arranhei as costas!
Não ignorei teus desejos!

Abrigarei cada uma das tuas sílabas!
Puxarei sim tua camisa!
Não poderás me deixar pra trás!

Nunca te afogarei! - prometo
Tua alma é uma genialidade!
E, então, tua boca irei beijar
-Sem maldade acalentar.


Zu (Tamara)

"A última tentativa de soneto do Libertino"


Minha querida,não te assuste com esta
Minha palidez tão aparente,veja:
É que meus olhos ainda estão em festa
Estão em mim,os vapores da cerveja

Minha querida,não se assuste tanto
Minha aparência nunca foi tão bela!
Minha bela,guarde o teu triste pranto
Minha belíssima e triste donzela

Bebi,amei,chorei,agora morrerei
Neste leito ao lado teu,parto feliz
Levo comigo tudo que não fiz e sei

Deixo-te como minha simples aprendiz
Mas antes de partir, deixo esta lição:
Sonetos não traduzem nosso coração!

- Só versos livres traduzirão!

Novas Diretrizes


me faço surdo
ao grego e ao
turco

- Já tenho problemas demais

me faço quieto
ao passar
pelos becos

- O mundo anda sério demais

me faço frio
ao andar
pelo Rio
- O Rio anda sujo demais

me faço assim
ao andar poraí
à procura de mim

- Andando perdido demais...

Encerramento da série "Eros & Psique" com o poema "Eros & Psique".



Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

(F.P.)


Alegria em par e paz (Eros & Psique)


Desço a avenida reticente, calado...monossilábico...
Ela olha o sol cair.
vermelho, nuvens douradas...
mãos dadas, leve brisa, o mar é logo alí.
Não é tristeza, não.
é outra coisa, como uma vontade...
uma quietude na alma...como se tivesse chegado ao fim...
como se não quisesse mais nada do mundo...
Ela olha o sol cair, sorrindo.
Descemos a avenida calados
Face inclinada, rosto para o oeste, visão lúdica
ela gosta de pôr-do-sol.
- Que foi? Tá triste? Com essa cara...
Ela me olha.

A preocupação dela me emociona, sua voz, sua cor de pele...
Sorrio, olho pra baixo, continuo descendo a avenida
Não é tristeza...É outra coisa, como um fim anunciado...Um fim sem fim
Como se o mundo não tivesse mais nada a me oferecer
É um sentimento estranho...Acho que é paz de espírito, ou alegria só...

Chegamos nas pedras, deitamos juntos...Ela repousa a cabeça no meu peito
O cheiro dos seus cabelo turvam meus sentidos...O sol vai caindo,
Vermelho, laranja, dourado...Ateando fogo no Dois Irmãos
Deixando a crista das ondas em brasas
- Lindo...
Ela diz, o pôr-do-sol...Sua voz é estranha para mim, como se nunca mais
quisesse ouvir outra...Como as ondas, suave e forte ao mesmo tempo...

Cruza os braços no meu peito, apoia a cabeça neles, face na minha face:
- Te amo...
Retribuo com um beijo...Não sei se a amo, não sei o que essa palavra significa
Me sinto estranho denovo...Não é tristeza...É outra coisa...Melancolia...sei la!

Não estou triste...Nem feliz...Estou simplesmente aqui, com ela...escutando as ondas
os pássaros marinhos, as pessoas falando, Scenic World do Beirut no MP3...
Ela me olha, seus olhos brilham...Um sorrizo tão largo quanto o mar me afoga...
Tento desviar o olhar..Não consigo...

Uma estrela aparece, as luzes da orla acendem... O dia é silenciado pelas estrelas e pela lua
crescente... Um cheiro de dama-da-noite sobe pelas pedras, jasmim e maresia...É hora de ir...
Não era tristeza...
Era a alegria de estar em paz,
Era a paz de estar em par...
Era amor, ou sei lá o que...
Eramos simplesmente
Eu, ela e o sol poente, e mais nada...



Soneto Ruim (Eros & Psique)

Teu corpo é um soneto, e eu desenho
Deslizo nas curvas,vou deslizando
As mãos, a cintura, esquadrinhando
Não sou arquiteto, mas me empenho

Teus seios, teu ventre, me falta engenho
Cintura, as pernas, teu olhar profundo
Em extase me perco em seu mundo
Suor, sentimentos, eu vou ganhando

Perdido em teu gozo tão sereno!
O tempo é as vezes tão ameno!
Como o frescor da brisa marinha

Desenho imperfeito, soneto ruim
Mas vou desenhando,esforço sem fim
Enquanto brincamos de você ser minha