" Em verdade vos digo :
Seja a Alma grande ou pequena,
escute meu amigo!
Nem tudo vale a pena!"

(zé)

Domingo de Bairro

Daqui do alto dá pra ver
Que Janeiro é vazio,
E os bairros vomitam seus excessos nos litorais

Não importa o tamanho da solidão
Vou pra rua, de andada
vou encontrando risadas, piadas
peitos, bundas, pernas.
A cerveja é sempre gelada

Um "avião" passou, me chamou
perguntou:
Quer viajar?
-Sexta eu passo lá!

Daqui do alto dá pra ver
Que antes, quando éramos Deuses
Falávamos e agíamos como moleques
éramos moleques, pés descalços, sujos e sublimes
E agora que somos homens
O divino nos abandonou.

(E se antes brincávamos
Hoje competimos.)

Antes, nos ombros das mangueiras e goiabeiras
podíamos tocar o céu
Pipa era Dragão colorido, fingindo ser livre
Rodando no ar, com rabiola de fitilhos do bom fim

O bairro guarda segredos de esquinas
guarda cirandas e beijos roubados
O bairro guarda a alma dos amigos que foram
o bairro é um mundo!

Daqui do alto da pra ver
o que ninguém mais vê:
Um mundo fervendo em verde-amarelo
Azul e branco no céu
Um caminho, uma trilha
Um atalho que dá no beco-brasil

Lambe.

Se lambes, se sugas, se bebes
de mananciais tão imundos
com a cara mais lavada do mundo
pergunto:
Não bebes, do meu?Não bebes?

Se tua boca, pavilhão rosaebranco
Encosta em águas tão profundas
O meu conseguir não vai a tanto
Se tu sugas de mares e ondas
Porque não sugas do meu oceano?

Não que eu seja assim tão profundo
nem que meu arroio seja ralo
É que desejo, desejo mais que o mundo

Que o teu desejo, que é prazer sem fim
seja simplesmente saciado
Matando tua sede em mim.