" Em verdade vos digo :
Seja a Alma grande ou pequena,
escute meu amigo!
Nem tudo vale a pena!"

(zé)

Carta desnecessária (de/ para) um morto

Das flores, nenhuma fez sombra
nem sussurros, nem baques
das flores, só secas, livros em dois lados

Dos dias, só flores amareladas, murchas
é assim, de sombras peuqenas e espumas esvoaçantes
a vida foi se fazendo, tímida e lenta
antes da caçada...da rede da morte

Dos livros, só poucos eu li
só movimentaram minhas retinas
e um pouco de paz momentanea

Dos dias, todos foram iguais
apesar de estações diferentes
as vezes cantagalo, as vezes cinelândia

Dos amores eternos, poucos, efêmeros
murcharam tão rápido quanto nasceram
a eternidade do amor vem da sua condição frágil e mortal.

Dos desencantos, encantos mil
dos desamores, poesias, odes, sonetos
das pessoas, rostos, vozes, músicas, cheiros

Das garotas, movimentos leves, danças, quadris
cabelos nos rostos, entrega ao momento
suavidade que só tem no nada

E assim, quando a rede passar, pegando peixe grande e pequeno
vou lembrar, que não tinha nada pra esquecer
o adeus é a Deus...E o sofrimento fica pra quem fica
não é que eu seja egoista, é que a vida passa e a rede chega
prá lugar melhor ou pior, eu vou do mesmo jeito
quem fica, chora,tem saudade, é o jeito...mas meu nome vai sumir
na noite do tempo, todo nome some, vai sussurar lá longe, no fim do mar...

E quando chegar a noite da vida
vai ser bom saber que houveram flores, sem sombra
poucos livros sem importância
dias tediosos, cantagalos, cinelândias
infinitos amores que morrem rápido
Houveram até sonetos!
danças, garotas, momentos sem a mínima relevancia.

Pois da vida, na fica, nada vai, tudo se evapora
e não adianta fazer e acontecer
Somos sombras e pó, que andam por aí dizendo que são coisas divinas
Valeu a pena? Algumas coisas valem...outras não
Pessoa estava errado?
- Qual poeta está certo?
"Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio"
E no fim (demoro a chegar a conclusão, talvez pelo medo que a conclusão das coisas traz aos homens, talvez por pura leviandade.)
lembrarei de mim, como sou, fui e serei...Pagão triste sim; mas sem fazer questão das flores no regaço.




Para meu querido amigo:
Ricardo Reis.

Das quatro precisões de viver

-Do que você precisa para viver? Perguntou assim, como quem se assusta.

- Amor de muito, sede de tudo, vida de graça, pão e cachaça.

Riu alto, olhou-me devagar e viu que era sincero... Olhou nos meus olhos quase ferindo as retinas:

- Acho que eu também. Falou do jeito de quem descobre um segredo, ou uma resposta que a muito tempo queria ter.
Beijou-me com firmeza, borrando o batóm.
Levantou, apagou o cigarro e saiu pela porta do bar.
Foi viver...
Nunca mais a vi.