O Deus Natural
Saí uma madrugada dessas sem nenhum intuito, só por sair...Fui descalço, sentindo o asfalto frio sob meus pés, sentindo aquele cheirinho típico da madrugada.Aquela brisa fria invadia a minha alma e arrepiava todo microporo da minha pele!Percebi que era primeira vez que me sentia sólido em toda área que ocupava..Muita gente passa a vidainteira sem sentir que é realmente sólido... Só escutava o vento fraco e gélido roçar a minha pele, minha respiraçãotranquila e os cães latindo... Os cães latindo... Os cães latindo... Aquilo era lindo! Aquele som, aquela sinfonia!Toda a melancolia soturna que só os cães da madrugada conseguem transmitir! Tudo parecia sólido agora... Tudonaquele cenário parecia tomar uma solidez, uma sobriedade incrível... Tudo ganhava uma concreticidade absurda!Nada parecia mais tão irreal como eu enxergava... Eu mesmo me sentia concreto, real, e pela primeira vez, vivo!Nenhum pensamento me passava pela cabeça, nenhuma ponderação, nenhuma lembrança de nada... Caminhava sem intuito, sem saber para onde ia, apenas seguia as minhas pernas... Não sentia medo, nem vergonha, nem nenhuma destascoisas que nós humanos chamamos de "sentimentos"... Só sentia uma coisa: Vontade... Vontade sobrepujando tudo!Vontade acima dos prazeres, acima até da minha existencia... Não me sentia mais senhor de mim...Sentia que faziaparte de algo muito maior... E era apenas um pequeno objeto, uma pequena engrenagem de uma máquina perfeita!Vagava...Vagava... Sem saber pra onde ia... Era feliz! Não feliz como nós homens costumamos imaginar, mas uma felicidade sossegada, uma felicidade sublime...Um "Nirvana"... Não me sentia mais um homem... Não me sentia mais uma pessoa comum... Era estranho! Me sentia completo,mas aomesmo tempo não me sentia! Na hora, eu só quis aproveitar aquela sensação... Mas não tinha outra escolha...Começei a correr! Corria insandecido, sem direção, apenas obedecendo a vontade, o desejo, a paixão, o INSTINTO!Eu havia encontrado o elo perdido entre a Alma e o Espírito... Creio que a alma nós construímos... todas as nossas experienciasas nossas convenções, os nossos princípios e tudo que construimos na vida civilizada...Na vida social...O Espírito é o contrário... É aquilo que já nasce conosco... É o nosso primeiro suspiro, nosso primeiro choro... É a paixão, é a fúria, o ódio...Não o desejo, mas sim a vontade! A vontade que ocultamos, o instinto selvagem que nósnos obrigamos a esconder na mais profunda alcova do nosso ser.... E quando nós deixamos esta liberdade animalescadominar a nossa possibilidade de ser e estar, finalmente descobrimos a felicidade pura e simples... A felicidade de apenas"Ser" e "Estar" ! Sem motivos...Sem planos... Sem desejos... Apenas a Vontade inaudita que nos impulsiona á seguir,a fazer o que o nosso espírito nos ordena... Aquilo que move os animais, aquilo que faz a vida ser como é,simples e perfeitaem seus milagres e suas misérias, um ciclo eterno...A potência primal, a força titãnica e irracional, a centelha etérea, o que põe o universo em marcha...Naquela madrugada, Despertei o Deus que havia dentro de mim...
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2 comentários:
Muuuuito bom, malandro!
Cada vez melhor isso aqui!
Gosto muito doq você escreve, Biel!
"A poesia prevalece!"
Acredite-se só até o fim!
"A felicidade de apenas"Ser" e "Estar""
Lembrei de Fernando Pessoa
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